PALAVRA QUE FERE PRECONCEITOS
A palavra ANARQUIA pode horrorizar os que só a consideram no sentido derivado, os que só vêem nela um sinônimo de desordem, de lutas violentas sem fim; mas temos nós culpa de não a conside-rarem no seu sentido primitivo, naquele que honestamente lhe dão todos os dicionários: ausência de governo?...
Mas não nos desagrada que essa palavra, reivindicada por nós, tenha o condão de suspender por um momento aqueles que se inte-ressam pelo problema social. No reino da fábula, todos os jardins maravilhosos, todos os palácios encantados são guardados por dra-gões ferozes. O dragão que está à entrada do palácio anárquico nada tem de terrível: é uma palavra apenas! Não trataremos, porém, de reter aqueles que à vista dela se deixam tomar pelo pavor; podemos estar certos de que lhes falta a liberdade de espírito necessária para estudar a questão em si mesma.
ELISEU RECLUS
---------------------------------------------------------------------------------
SIGNIFICADO DA PALAVRA ANARQUIA
Os componentes da corrente antiestatal do socialismo adotaram a designação que expressa o elemento básico de sua concepção social
— ANARQUIA, vocábulo formado por duas palavras gregas: AN, quesignifica NÃO, e ARKHÉ, que significa AUTORIDADE — não governo, não autoridade. Portanto: organização social que se regem sem a necessidade da existência de governo, de chefe, de poder, de autori-dade — substituída pela organização livre de todas as atividades federadas entre si, com a distribuição de atribuições e não de mando. Sobre o emprego errôneo e até pejorativo dessa designação, assim se expressa o ilustre escritor anarquista francês, já falecido, André Girard, em seu verbete sobre anarquia, no dicionário "La Chattre. (1)
"Um preconceito bastante desenvolvido consiste em crer que um estado tal deve forçosamente engendrar a revolta e a confusão nas relações sociais. Isso tem feito com que comumente se adotasse a palavra anarquia como sinônimo de desordem. Assim, por exemplo fala-se da anarquia feudal, sem se ter em conta que jamais houve sociedade alguma tão longe da anarquia como aquele regime despó-tico e arbitrário que se chama feudalismo. O sentido de desordem e confusão não é, por conseguinte, senão um sentido derivado da verdadeira significação da palavra anarquia. A Anarquia, em filo-sofia positiva, é a concepção dum estado social em que o indivíduo, dono e soberano de sua pessoa, se desenvolverá livremente e no qual as relações sociais se restabelecerão entre os membros da sociedade segundo as suas opiniões, as suas afeições e as suas necessidades, sem constituição de autoridade política. Numa palavra, a Anarquia é a negação do Estado, sob qualquer forma que se apresente, substituída pela iniciativa individual exercendo-se diversamente e harmônica-mente. A doutrina preconizada pela Anarquia é o anarquismo. Esta doutrina não é, de nenhum modo, uma concepção de sonhado-res. É, pelo contrario, a conclusão social da filosofia e de toda a ciência moderna que tem por objetivo o estudo do homem e da so-ciedade. As bases do anarquismo são ao mesmo tempo filosóficas, morais, políticas e econômicas. (2)
(1) EDGARD LEUENROTH
(2) ANDRÉGIRARD
----------------------------------------------------------------------------------
A palavra ANARQUIA pode horrorizar os que só a consideram no sentido derivado, os que só vêem nela um sinônimo de desordem, de lutas violentas sem fim; mas temos nós culpa de não a conside-rarem no seu sentido primitivo, naquele que honestamente lhe dão todos os dicionários: ausência de governo?...
Mas não nos desagrada que essa palavra, reivindicada por nós, tenha o condão de suspender por um momento aqueles que se inte-ressam pelo problema social. No reino da fábula, todos os jardins maravilhosos, todos os palácios encantados são guardados por dra-gões ferozes. O dragão que está à entrada do palácio anárquico nada tem de terrível: é uma palavra apenas! Não trataremos, porém, de reter aqueles que à vista dela se deixam tomar pelo pavor; podemos estar certos de que lhes falta a liberdade de espírito necessária para estudar a questão em si mesma.
ELISEU RECLUS
---------------------------------------------------------------------------------
SIGNIFICADO DA PALAVRA ANARQUIA
Os componentes da corrente antiestatal do socialismo adotaram a designação que expressa o elemento básico de sua concepção social
— ANARQUIA, vocábulo formado por duas palavras gregas: AN, quesignifica NÃO, e ARKHÉ, que significa AUTORIDADE — não governo, não autoridade. Portanto: organização social que se regem sem a necessidade da existência de governo, de chefe, de poder, de autori-dade — substituída pela organização livre de todas as atividades federadas entre si, com a distribuição de atribuições e não de mando. Sobre o emprego errôneo e até pejorativo dessa designação, assim se expressa o ilustre escritor anarquista francês, já falecido, André Girard, em seu verbete sobre anarquia, no dicionário "La Chattre. (1)
"Um preconceito bastante desenvolvido consiste em crer que um estado tal deve forçosamente engendrar a revolta e a confusão nas relações sociais. Isso tem feito com que comumente se adotasse a palavra anarquia como sinônimo de desordem. Assim, por exemplo fala-se da anarquia feudal, sem se ter em conta que jamais houve sociedade alguma tão longe da anarquia como aquele regime despó-tico e arbitrário que se chama feudalismo. O sentido de desordem e confusão não é, por conseguinte, senão um sentido derivado da verdadeira significação da palavra anarquia. A Anarquia, em filo-sofia positiva, é a concepção dum estado social em que o indivíduo, dono e soberano de sua pessoa, se desenvolverá livremente e no qual as relações sociais se restabelecerão entre os membros da sociedade segundo as suas opiniões, as suas afeições e as suas necessidades, sem constituição de autoridade política. Numa palavra, a Anarquia é a negação do Estado, sob qualquer forma que se apresente, substituída pela iniciativa individual exercendo-se diversamente e harmônica-mente. A doutrina preconizada pela Anarquia é o anarquismo. Esta doutrina não é, de nenhum modo, uma concepção de sonhado-res. É, pelo contrario, a conclusão social da filosofia e de toda a ciência moderna que tem por objetivo o estudo do homem e da so-ciedade. As bases do anarquismo são ao mesmo tempo filosóficas, morais, políticas e econômicas. (2)
(1) EDGARD LEUENROTH
(2) ANDRÉGIRARD
----------------------------------------------------------------------------------
INTERESSANTE VERSÃO HISTÓRICA SOBRE O VOCÁBULO ANARQUIA
Sobre a origem do vocábulo anarquia há ainda um dado, encon-trado pelo autor deste livro em uma publicação anarquista, que é re-gistrada como informação interessante ou como elemento histórico. Na Grécia, por volta de 478 A.C., existiu, em Thebas, certo tipo que dispondo de poder viveu a escravizar o povo e a praticar barbaridades. Contra suas brutalidades formou-se um movimento de protesto. Arquias era nome desse tirano. An-Arquias eram designados aqueles que contra ele reagiam. O tirano sucumbiu assassinado em meio às orgias de um festim. Contra os Arquias de hoje continuam combatendo os anarquistas.
EDGARD LEUENROTH
----------------------------------------------------------------------------------
DEVEMOS ANARQUISTAS RENUNCIAR A PALAVRA ANARQUIA?
Há motivos para renunciar à palavra anarquia mal acreditada, para substituí-la por uma fórmula de confiança, mais "explícita", mais "construtiva", mais "sintética" etc, ajuntando às palavras socia-lismo, comunismo, sindicalismo ou outro qualquer ismo o termo liber-tário?
Por nossa parte, cremos que, se a palavra anarquia assusta, é precisamente porque essa palavra constitui uma audaciosa concepção revolucionária como solução atual, para os espíritos dispostos à preguiça mental e ao servilismo. Enquanto se apresenta como utopia, como devaneio para o espírito, forjando uma hipótese, a nossa doutrina conserva simpatias sorridentes, às vezes um pouco inquietas; mas, chegada a hora de ser posta em prática, os mais fanáticos defensores da idéia em palavras empalidecem ante a sua realização.
Falemos sem rodeios: a perspectiva de viver sem chefes, sem deuses, sem patrões e sem juizes, em plena responsabilidade de adul-tos emancipados, longe da paternal autoridade das leis, longe da imagem de um exemplo a seguir — é nisto, precisamente, e não em outra coisa, que devemos procurar a causa de todo temor, às vezes fascinante, que produz a palavra anarquia — e é, sem dúvida algu-ma, o infantilismo mental dos povos habituados a obedecer e ao uso do temor religioso que faz da palavra anarquia — tão pouco agressiva no sentido etimológico (não-autoridade) — o símbolo universal do caos sangrento, da desordem dos costumes, da negação de toda vida so-cial. O problema não está, pois, nas palavras, e sim no fundo das coisas; para chegar à liberdade pela liberdade, necessário se torna achar um meio de fazer aceitar ao povo a idéia, a situação respon-sável da idade adulta, com todas as conseqüências.
A palavra liberdade, o objetivo libertário, enquanto formulas go-zam de uma acolhida favorável, É que elas não dão lugar a uma interpretação inocente e infantil: aquela da liberalidade dos donos ou das leis, aquela da possessão das liberdades concedidas. A idéia apaziguadora da autorização, da concessão, da permissão, é um bál-samo para os corações débeis.
Quereis prestar-vos a êxitos fáceis de propaganda? Apresentai aos buscadores de felicidade e segurança (maioria natural de todos os auditórios) uma maquete de sociedade completamente feita de tons dourados, como uma jaula nova e bonita; depois, fazei-os admi-rar quão espaçosa e libertária é essa jaula: mostrai-lhes bem a alco-va, o banheiro e todas as dependências destinadas a oferecer conforto e frivolidades. Podereis contar com os aplausos entusiásticos daqueles que desejam arrendar a bela jaula do futuro.
Mas, se convidais a cada um dos assistentes a dar-se ao trabalho de organizar por si a sua própria vida, fazendo — isto não seria mais que um pensamento — abstração de toda autoridade tutelar; se propusésseis ao vosso público, como programa, a defesa solidária e comum da autonomia de cada um; se insistísseis para empreender essa realização em um prazo determinado, não tardarieis em ver as coisas sombrias.
O problema está, pois, não em fazer amar as liberdades, mas em fazer amar a liberdade, o que não é a mesma coisa.
O problema está em fazer acreditar na liberdade integral, em fazer aceitar as responsabilidades de lutar por ela, desprezando todas as conseqüências e riscos. O problema está em fazer aceitar a anarquia — compreendendo as dificuldades transitórias e o esforço que é preciso fazer para seguir adiante. O problema está em fazer aceitar e lutar por um mundo "sem amos nem senhores", como coisa preferível à "ordem" atual existente. Por isso, repetimos com Elise Reclus: “O dragão que está à porta da Anarquia nada tem de terrí-vel: é uma palavra apenas!”
ACRACIA é outra desginação de Anarquia, usada principalmente entre libertários de língua castelhana. Na imprensa anarquista da Espanha figuram publicações assim intituladas. Em dicionários figura como neologismo, significando o mesmo que anarquia, ausência de autoridade. Do grego: A (Ausência) + Kratos (Força, Poder).
G. CELLO
Sobre a origem do vocábulo anarquia há ainda um dado, encon-trado pelo autor deste livro em uma publicação anarquista, que é re-gistrada como informação interessante ou como elemento histórico. Na Grécia, por volta de 478 A.C., existiu, em Thebas, certo tipo que dispondo de poder viveu a escravizar o povo e a praticar barbaridades. Contra suas brutalidades formou-se um movimento de protesto. Arquias era nome desse tirano. An-Arquias eram designados aqueles que contra ele reagiam. O tirano sucumbiu assassinado em meio às orgias de um festim. Contra os Arquias de hoje continuam combatendo os anarquistas.
EDGARD LEUENROTH
----------------------------------------------------------------------------------
DEVEMOS ANARQUISTAS RENUNCIAR A PALAVRA ANARQUIA?
Há motivos para renunciar à palavra anarquia mal acreditada, para substituí-la por uma fórmula de confiança, mais "explícita", mais "construtiva", mais "sintética" etc, ajuntando às palavras socia-lismo, comunismo, sindicalismo ou outro qualquer ismo o termo liber-tário?
Por nossa parte, cremos que, se a palavra anarquia assusta, é precisamente porque essa palavra constitui uma audaciosa concepção revolucionária como solução atual, para os espíritos dispostos à preguiça mental e ao servilismo. Enquanto se apresenta como utopia, como devaneio para o espírito, forjando uma hipótese, a nossa doutrina conserva simpatias sorridentes, às vezes um pouco inquietas; mas, chegada a hora de ser posta em prática, os mais fanáticos defensores da idéia em palavras empalidecem ante a sua realização.
Falemos sem rodeios: a perspectiva de viver sem chefes, sem deuses, sem patrões e sem juizes, em plena responsabilidade de adul-tos emancipados, longe da paternal autoridade das leis, longe da imagem de um exemplo a seguir — é nisto, precisamente, e não em outra coisa, que devemos procurar a causa de todo temor, às vezes fascinante, que produz a palavra anarquia — e é, sem dúvida algu-ma, o infantilismo mental dos povos habituados a obedecer e ao uso do temor religioso que faz da palavra anarquia — tão pouco agressiva no sentido etimológico (não-autoridade) — o símbolo universal do caos sangrento, da desordem dos costumes, da negação de toda vida so-cial. O problema não está, pois, nas palavras, e sim no fundo das coisas; para chegar à liberdade pela liberdade, necessário se torna achar um meio de fazer aceitar ao povo a idéia, a situação respon-sável da idade adulta, com todas as conseqüências.
A palavra liberdade, o objetivo libertário, enquanto formulas go-zam de uma acolhida favorável, É que elas não dão lugar a uma interpretação inocente e infantil: aquela da liberalidade dos donos ou das leis, aquela da possessão das liberdades concedidas. A idéia apaziguadora da autorização, da concessão, da permissão, é um bál-samo para os corações débeis.
Quereis prestar-vos a êxitos fáceis de propaganda? Apresentai aos buscadores de felicidade e segurança (maioria natural de todos os auditórios) uma maquete de sociedade completamente feita de tons dourados, como uma jaula nova e bonita; depois, fazei-os admi-rar quão espaçosa e libertária é essa jaula: mostrai-lhes bem a alco-va, o banheiro e todas as dependências destinadas a oferecer conforto e frivolidades. Podereis contar com os aplausos entusiásticos daqueles que desejam arrendar a bela jaula do futuro.
Mas, se convidais a cada um dos assistentes a dar-se ao trabalho de organizar por si a sua própria vida, fazendo — isto não seria mais que um pensamento — abstração de toda autoridade tutelar; se propusésseis ao vosso público, como programa, a defesa solidária e comum da autonomia de cada um; se insistísseis para empreender essa realização em um prazo determinado, não tardarieis em ver as coisas sombrias.
O problema está, pois, não em fazer amar as liberdades, mas em fazer amar a liberdade, o que não é a mesma coisa.
O problema está em fazer acreditar na liberdade integral, em fazer aceitar as responsabilidades de lutar por ela, desprezando todas as conseqüências e riscos. O problema está em fazer aceitar a anarquia — compreendendo as dificuldades transitórias e o esforço que é preciso fazer para seguir adiante. O problema está em fazer aceitar e lutar por um mundo "sem amos nem senhores", como coisa preferível à "ordem" atual existente. Por isso, repetimos com Elise Reclus: “O dragão que está à porta da Anarquia nada tem de terrí-vel: é uma palavra apenas!”
ACRACIA é outra desginação de Anarquia, usada principalmente entre libertários de língua castelhana. Na imprensa anarquista da Espanha figuram publicações assim intituladas. Em dicionários figura como neologismo, significando o mesmo que anarquia, ausência de autoridade. Do grego: A (Ausência) + Kratos (Força, Poder).
G. CELLO
Nenhum comentário:
Postar um comentário