quarta-feira, 15 de julho de 2009

A VERDADEIRA DÍVIDA


Aqui eu, Guaicaipuro Cuatémoc, descendente dos que povoaram a América faz quarenta mil anos, vim encontrar aos que aqui se encontram faz quinhentos anos.

O irmão usureiro europeu me pede pagamento de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei vender-me. O irmão leguleio europeu me explica que toda dívida se paga com interesses, ainda que seja vendendo seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento.

Também eu posso reclamar pagamento, posso reclamar interesses. Consta no arquivo das Índias, papel sobre papel, recibo sobre recibo, que somente entre os anos 1503 e 1660 chegaram a San Lúcar de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América. Saque? Expoliação? Genocídio?

Não. Esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata devem ser considerados como o primeiro de vários empréstimos amigáveis da América para o desenvolvimento da Europa.

O contrário seria presumir crimes de guerra, o que daria direito, não só a exigir devolução imediata, como também indenização por danos e prejuízos. Eu prefiro crer na menos ofensiva das hipóteses.

Tão fabulosas exportações de capital não foram mais que o início de um plano para garantir a reconstrução da bárbara Europa, arruinada por suas deploráveis guerras contra os cultos muçulmanos, defensores da álgebra, da poligamia, do banho diário e outras conquistas superiores da civilização.

Fizeram, os irmãos europeus, um uso racional, responsável ou pelo menos produtivo dos recursos tão generosamente adiantados pelo Fundo Indoamericano Internacional?

Deploramos dizer que não.

No estratégico, o dilapidaram em inúmeras batalhas, armadas invencíveis, terceiros Reich e outras formas de extermínio mútuo.

No financeiro foram incapazes de tornar-se independentes das rendas líquidas, das matérias primas e da energia barata que os exporta o mundo subdesenvolvido. Obriga-nos a reclamar-lhes - para seu próprio bem - o pagamento de interesses que, tão generosamente, demoramos todos esses séculos para receber.

Ao dizer isto, aclaramos que não nos rebaixaremos a ponto de cobrar dos irmãos europeus as vis e sanguinárias taxas flutuantes de 20 a até 30% que os irmãos europeus cobram aos povos do submundo. Nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos adiantados, corrigidos em 10% ao ano, acumulados durante os últimos 300 anos. Sobre esta base aplicando a européia forma de interesse composto, informamos aos descobridores que só nos devem, como primeiro pagamento de sua dívida, uma massa de 180 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambas elevadas à potência de 300. Ou seja, um número para cuja expressão total, seriam necessárias mais de 300 cifras e que supera amplamente o peso da terra.

Muito pesadas são estas barras de ouro e prata! Quanto pesariam calculadas em sangue?

Concluir que a Europa em meio milênio não pôde gerar riquezas para saldar o que deve, seria o mesmo que admitir seu absoluto fracasso financeiro e, ou, a demencial irracionalidade dos supostos do capitalismo.

cacique Guaicaipuro Cuatémoc

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