quarta-feira, 1 de julho de 2009

AGP E O INÍCIO...


AGP E O INÍCIO DOS
DIAS DE AÇÃO GLOBAL3


AÇAO GLOBAL DOS POVOS

Em 1996, os zapatistas, mesmo temendo que ninguém aparecesse, lançaram um chamado para um encontro internacional de ativistas e intelectuais em Chiapas, com o intuito de se discutir estratégias comuns, problemas e soluções. Seis mil pessoas atenderam ao chamado, e passaram dias conversando e compartilhando suas histórias de luta contra o inimigo comum: o capitalismo. A este se seguiu no ano seguinte um encontro na Espanha, onde a idéia de uma campanha global mais concreta, chamada Ação Global dos Povos, foi parida por um grupo formado por dez dos maiores e mais inovadores movimentos sociais, incluindo o Movimento Sem Terra brasileiro e o Sindicato dos Agricultores do Estado de Karnataka (KRRS), dos agricultores radicais da Índia.
Quatro "pontos de partida" foram propostos por esse grupo (que veio a ser o comitê convocado e da AGP, papel que seria rotativo anualmente) na perspectiva de juntar pessoas em tomo de princípios comuns. Eles eram:
3 Trecho do artigo Our Resitance Is As Transnational As Capital, originalmente publicado na revista Inglesa Do or Die! n. 8. e posteriormente publicado no livro Reflections on J1B do RTS de Londres.

“Uma rejeição explícita das instituições que as multinacionais e os especuladores construíram para tomar o poder das pessoas, como a OMC e outros acordos de liberalização do comércio (como a APEC4, a UE5, a 6NAFTA etc.)7”;
“Uma atitude de confronto, uma vez que não achamos que tentar influenciar e participar possa ter um grande impacto nessas viciadas e antidemocráticas organizações, nas quais o capital transnacional é o único verdadeiro orientador das políticas”;
"Uma chamada para a desobediência civil não-violenta e a construção de alternativas locais pelas comunidades locais, como resposta para a ação dos governos e das corporações8”;
“Uma filosofia organizacional baseada na descentralização e autonomia”.

Em fevereiro de 1998, a Ação Global dos Povos nasceu. Pela primeira vez os movimentos populares do mundo estavam começando a conversar e trocar experiências, sem a mediação de Organizações Não-Governamentais, e a primeira conferência da AGP teve lugar em Genebra (Suíça) - lar da tão odiada OMC. Mais de 300 delegados de 71 países foram a Genebra para compartilhar sua raiva pelo domínio corporativo. Das comunidades Uwa, passando pelos Funcionários do Correio Canadense, Reclaim The Streets, militantes antinuclear, agricultores franceses, ativistas Maori e Ogoni, sindicalistas coreanos, Rede de Mulheres Indígenas da América do Norte, aos ambientalistas ucranianos, todos estavam lá para formar "um instrumento global para comunicação e coordenação de todos aqueles que lutam contra a destruição da humanidade e do planeta pelo mercado global, enquanto constroem alternativas locais e poderes populares”.
4 Associação de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacifico. (N.T.)
5 União Européia. (N.T.)
6 Acordo de Livre Comércio da América do Norte. (N.T.)
7 “Na Conferencia Internacional da AGP, realizada em setembro de 2001 em Cochabamba, alguns princípios da AGP, assim como o manifesto, foram modificados, dando-lhes um caráter explicitamente anticapitalista. O princípio citado passou a ser desde então: “Uma rejeição explicita do feudalismo, do capitalismo e do Imperialismo; de todos os acordos, instituições e governos que promovem a globalização destrutiva”(N.T.)

8 Após a III Conferencia da AGP, este principio foi modificado e passou a ser: "Uma chamada à ação direta e desobediência civil, ao apoio às lutas dos movimentos sociais. propondo formas de resistência que maximizem o respeito pela vida e pelos direitos dos povos oprimidos, assim como pela construção de alternativas locais ao capitalismo global': Foi retirado o temo "nao-violenta", uma vez que dizia respeito muito mais a uma cultura de ativismo influenciada por Gandhi e quase exclusivamente presente no Norte. também devido às diferentes concepções de "não-violência" existentes em diferentes regiões, e para evitar uma divisão no movimento e criminalização de uma parte dele com base na dicotomia violência / não-violência. (N.T.)
Um dos participantes falou deste evento inspirador: "É difícil descrever o calor e a profundidade dos encontros que tivemos aqui. O inimigo global é relativamente bem conhecido, mas a resistência global que ele enfrenta raramente passa através do filtro da mídia. E aqui encontramos pessoas que paralisaram cidades inteiras no Canadá com greves gerais, que arriscaram suas vidas para obter a posse de terra na América Latina, que destruíram a sede da Cargill na Índia ou o milho transgênico da Norvatis na França. As discussões, os planos concretos de ação, as histórias de batalhas, as personalidades, a entusiástica hospitalidade dos squatters9 de Genebra, o tom apaixonado das mulheres e homens encarando a policia do lado de fora do prédio da OMC, todos selaram uma aliança entre nós. Espalhados no mundo novamente, não esqueceremos. Permanecemos juntos. Esta é nossa luta comum".
Um dos objetivos concretos da conferência era coordenar ações contra dois eventos de importância global que aconteceriam em maio daquele ano, a reunião do G-8 (um evento anual), dos lideres das oito nações mais industrializadas, que teria lugar em Birmingham (Grã-Bretanha), e a segunda reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio que ocorreria um dia depois em Genebra.
Por quatro dias consecutivos em maio de 1998, atos de resistência ecoaram em volta do planeta. Em Hyderabad, Índia, 200 mil agricultores clamaram pela morte da OMC, em Brasília agricultores sem-terra e trabalhadores desempregados juntaram for-ças e 50 mil deles foram às ruas, mais de 30 festas Reclaim The Streets10 ocorreram em diversos locais, indo da Finlândia, passando por São Francisco, Toronto, Lion e Berlim. Em Praga, ocorreu a maior mobílização desde a Revolução de Veludo em 1989, trazendo milhares de pessoas às ruas para uma festa móvel que terminou com vários Mc Donald's recebendo um “novo design” e com batalhas com a policia, Enquanto isso, no Reino Unido 5 mil pessoas paralisavam o centro de Birmingham enquanto os lideres do G-8 escapavam da cidade para um resort local, a fim de continuarem sua reunião em um lugar mais tranqüilo, No dia seguinte as ruas de Genebra explodiram. O G-8 e muitos outros lideres mundiais convergiram lá para a reunião ministerial da OMC, e para celebrar o qüinquagésimo aniversário do Acordo Geral de Comércio de Tarifas (GATT), o precursor da OMC. Mais de 15 mil pessoas de toda a Europa e muitos de outros continentes se manifestaram contra a tirania da OMC. Bancos tiveram suas janelas quebradas, o Mercedes do diretor-geral da OMC foi virado, e três dias com os maiores distúrbios já vistos em Genebra se seguiram. A poeira baixou, os lideres mundiais presos em sua casamata de vidro, ao lado do lago Genebra, produziram uma declaração dizendo que queriam que a OMC se tornasse "mais transparente"' Como se isso fizesse a menor diferença.
9 Pessoas que ocupam os squats. (N.T.)
10 O termo aqui se refere a uma mistura de carnaval e raves politizadas que ocupam as ruas. (N.T.)

O 18 DE JUNHO: CONTINUANDO A CONSTRUIR

Era óbvio que as coisas realmente estavam caminhando, e tínhamos que aproveitar o momento e construir algo em cima do sucesso das ações de maio. Mas como? Então veio a idéia, por que não atacar a jugular desta vez? Por que não visar o coração da besta, o núcleo pulsante da economia global, os distritos financeiros e bancários, a casa das máquinas de toda devastação ecológica e social? Dessa vez poderíamos fazer a coisa ser maior, melhor e até mesmo mais diversa... o desejo de fazer alguma coisa nessa pequena milha quadrada de propriedade, na porta de nossas casas, em Londres, o principal centro financeiro da Europa, e uma das mais antigas capitais e das mais poderosas regiões, provou ser forte. Tendo a tendência em acreditar na realidade de nossos desejos, não tínhamos como resistir à tentação.
Assim, durante um dia quente de verão em junho de 1998, ocorreu uma troca de idéias entre um ativista do Reclaim The Streets e alguém do London Greenpeace (LGP - um coletivo anarquista que não é vinculado ao Greenpeace Internacional) que havia se engajado nas manifestações Stop the City durante os anos 80. Ficou claro que eles tinham idéias parecidas para um evento na City11: juntar todas as campanhas sobre temas específicos em torno do inimigo comum chamado capital. Uma data já havia sido marcada para uma reunião pública. O LGP sentia que era o momento certo para se lançar a esse audacioso alvo. O Stop the City foi resultado do vigor do movimento pacifista. Nos últimos anos o movimento ecológico de ação direta tem se fortificado, e parece haver uma irrupção da ação dos trabalhadores - as greves selvagens da linha de metrô Jubilee, e os trabalhadores da área da saúde de Tameside sendo dois exemplos. Festas de rua floresceram em todo país com milhares de pessoas adotando a ação direta, e havia a sensação de que existia vigor suficiente para levar a cabo uma ação tão ambiciosa e insolente.
A idéia foi levada à reunião semanal do RTS e ao LGP. Pelo meio de agosto, a primeira de muitas reuniões públicas sobre o 18 de Junho teve lugar em um centro comunitário no centro de Londres. Assim como o RTS e o LGP, vários grupos estavam presentes, indo desde o Mexico Support Group, London Animal Action ao Mc Libel e ao Class War. Uma data foi definida, 18 de junho, que coincidiria com o encontro deste ano do G-8, sexta-feira portanto um dia de trabalho na City.
(...)

Judy Reclaim The Streets



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