quinta-feira, 25 de junho de 2009

CONTRA O TRABALHO

Uma estranha loucura se apossou dos trabalhadores das nações onde reina a
civilização capitalista. Esta loucura arrasta consigo misérias individuais e
sociais que há dois séculos torturam a triste humanidade. Esta loucura é o amor
ao trabalho, a paixão moribunda do trabalho, levado até ao esgotamento das
forças vitais do indivíduo.

Em vez de reagir contra esta aberração mental, os padres, os economistas, os
moralistas sacrossantificaram o trabalho. Homens cegos e limitados, quiseram ser
mais sábios do que o seu Deus; homens fracos e desprezíveis, quiseram reabilitar
aquilo que o seu Deus amaldiçoara. Eu, que confesso não ser cristão, economista
e moralista, recuso admitir os seus juízos como os do seu Deus; recuso admitir
os sermões da sua moral religiosa, econômica, livre-pensadora, face às terríveis
conseqüências do trabalho na sociedade capitalista.

O trabalho é a causa de toda a degenerescência intelectual, de toda a deformação
orgânica. Os filósofos da antigüidade ensinavam o desprezo pelo trabalho, essa
degradação do homem livre; os poetas cantavam a preguiça, esse presente dos
Deuses.

Os trabalhadores, a grande classe que engloba todos os produtores das nações
civilizadas, a classe que, ao emancipar-se, emancipará a humanidade do trabalho
servil e fará do animal humano um ser livre, ao trair seus instintos e
esquecer-se da sua missão histórica, deixou-se perverter pelo dogma do trabalho.
Rude e terrível foi a sua punição. Todas as misérias individuais e sociais
valeram a sua paixão pelo trabalho.



Paul Lafargue (1842 - 1911), de O Direito à Preguiça

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