terça-feira, 27 de outubro de 2009

A COMUNA DE BOT




Entre as coletividades nascidas ao calor da revolução, é de notar-se a que surgiu em Bot, na região de Terra Alta, em Tarragona, escreve um dos militantes que participou da revolução espanhola.

Desde os primeiros momentos, nos agrupamos algumas centenas de famílias, às quais se juntavam outras dia por dia. Dinheiro gêneros comestíveis, utensílios, etc., tudo pusemos em comum, ao serviço da Comuna, juntando aos bens populares tudo quanto se pôde requisitar dos elementos simpatizantes das forças inimigas.

Aos reacionários que, malgrado tais qualidades, aceitaram a proposta de conviver conosco, lhes deixávamos o ingresso livre, fazendo-os participar imediatamente dos mesmos direitos e deveres de todos os membros da coletividade.
Foi criada uma cooperativa de consumo, a fim de atender à distribuição eqüitativa de todas as coisas necessárias ao uso individual de cada um, tomando por base a família e de acordo com as anotações feitas pela administração. Dentro da comuna, foi abolido o uso do dinheiro, apenas reservado às necessidades do comércio com o exterior, quando tal comércio se tornava imprescindível. Naturalmente, preferimos tratar com as coletividades de outras regiões que se regiam moral e econômica-mente como nós outros. A terra era trabalhada em grupos de vinte, e cada grupo tinha um delegado nomeado diretamente pelos companheiros. Esses grupos se reuniam aos sábados, em assembléias gerais, com o fim de distribuir o serviço para a semana próxima, ao mesmo tempo que se discutiam assuntos relacionados com as atividades de cada grupo e se analisava a situação geral da coletividade. Dispúnhamos de cavalos, ovelhas, cabras, porcos, bem instalados em diversos estábulos e dispondo de ótimos pastos e acomodações necessárias aos produtos. De um modo geral, o resultado de nosso sistema de trabalho e de convivência se revelava ótimo, até surpreendente para nós mesmos, e teríamos continuado o desenvolvimento progressivo para melhores realizações, se os inimigos do povo trabalhador não nos tivessem atacado com forças superiores aos nossos meios de defesa. Os esbirros republicanos, bolchevistas e de outras cores partidárias que receavam a demonstração prática do comunismo libertário, assaltaram a nossa coletividade, destruindo-a, como o teriam feito as forças franquistas, se tivessem chegado primeiro que eles.

Esse golpe de força contra-revolucionário ocorreu em maio de 1937. Mas a recordação da vida livre, iniciada em julho de 1936, permanece indelével em todos quantos, anarquistas ou não, puderam experimentá-la. Ao produzir-se o levante militar fascista de julho de 1936, como já havia acontecido em dezembro de 1934, nos vales mineiros de Cardoner e do Alto Llobregat foi declarada a greve geral revolucionária. Transcorridos alguns dias, tendo-se constatado que os Conselhos da Administração, por estarem comprometidos no levante faccioso, haviam desaparecido, deixando abandonados os serviços de segurança das minas, acontecendo mesmo que, em uma delas, possuía as instalações mais deficientes, as águas haviam minado o cimento dos dois poços (o de extração e o de salvamento), correndo o risco de ficar totalmente inutilizada os trabalhadores decidiram encarregar-se da direção e administração das mesmas, recomeçando o trabalho e reparando todas as instalações. Com a mesma normalidade com que se nomeavam os comitês de sindicatos, em assembléia geral, foram eleitos os Conselhos de Empresa, em que tomavam parte representações da técnica, da administração e da produção.

A assembléia era soberana, e os eleitos executores das suas resoluções. Nas assembléias, prestavam-se contas da situação técnica e da marca da produção das minas, para serem discutidos os atos dos Conselhos de Empresa. As melhorias introduzidas nas minas, a partir da coletivização, foram tantas e de tal vulto que seria exaustivo enumerá-las, bastando dizer-se que, em conseqüência da interrupção das comunicações com a zona do centro, ao surgir o problema do abastecimento do sal comum, na média de trezentas toneladas diárias, as coletividades do fornecimento de carvão às minas; abriu-se e iniciou-se a exploração de outra mina no vale de La Nou, sendo necessário, para alcançá-la, construir uma estrada em terreno montanhoso e acidentado, numa extensão de oito a dez quilômetros. Apesar das dificuldades de habitação, dos rigores do inverno, da falta de alimentação e da separação forçada das famílias, ao expor-se, numa assembléia, o elevado custo das despesas a cobrir para a realização desse objetivo, não foi preciso nenhum sistema de coação para o conseguir: as necessidades foram supridas pelos voluntários que se ofereceram para executar esse trabalho. Devido às condições do terreno, em uma das minas vinha-se empregando grande quantidade de madeira que depois ficava, forçosa-mente, enterrada nas explorações abandonadas. A utilização desse material provocava a paralisação das instalações de extração e trituração durante várias horas; as dificuldades de transporte no interior das minas obrigavam, muitas vezes, ao emprego da mão-de-obra para a sua instalação e, por não se conseguir dominar o terreno, verificavam-se muitos acidentes no trabalho. Uma profunda mu-dança no sistema das instalações posta em prática pela coletividade permitiu a abolição do emprego da madeira nas explorações, a utilização das instalações de extração e trituração, a economia das horas de trabalho despendidas para descer as madeiras, o desaparecimento das dificuldades criadas pelo transporte interno, a possibilidade do emprego da mão-de-obra em outras atividades, maior segurança no trabalho e, portanto, menos acidentes. Além disso, conseguiram-se maiores possibilidades de aplicação técnica e grande economia, que somava alguns bilhões anuais em virtude das despesas feitas na compra e transporte das madeiras até à entrada das minas. O rendimento conseqüente desse esforço no aperfeiçoamento dos métodos de trabalho foi depois aproveitado pelas companhias, ao verificar-se o triunfo circunstancial do fascismo. As minas estavam federadas entre si, constituindo a Federação Econômica de Sais e Potássios, que, por sua vez, pertencia à Federação Regional de Indústrias Químicas e à Federação Nacional das mesmas indústrias. Era através da Federação Econômica (em que as unidades produtoras conservavam absoluta independência de produção e administração) que se fazia a distribuição dos pedidos e das matérias-primas quando era necessária a sua aquisição para uso comum. Depois da experiência da propriedade individual e da propriedade do Estado, o sistema coletivo adotado na Espanha pelos anarquistas constitui uma afirmação da economia posta a serviço da coletividade, demonstração prática dos princípios de liberdade e dignidade humanas, harmonia de interesses na distribuição do trabalho e dos produtos .

Tendo os diretores da empresa que explorava o serviço de transporte naquela cidade abandonada o posto, os trabalhadores, por intermédio do Sindicato dos Operários de Transportes, filiado à Confederação Nacional do Trabalho (C.N.T.), tomaram a si a responsabilidade da administração desse serviço. Pois bem, apesar de haverem sido aumentados os salários e o número de trabalhadores, foram entregues durante um ano, 60 milhões de pesetas à municipalidade, quando a Companhia tinha estipulado, no contrato, a obrigação de entregar 8 milhões!
Além disso, dentro desse prazo, foram construídas 14 novas linhas, sobrando ao Sindicato muitos recursos para continuar a sua obra de melhoramentos no serviço de transportes coletivos. (...)


Texto do livro: Anarquismo - Roteiro da Libertação Social de Edgar Leuenroth

Um comentário:

  1. Programas sensacionalistas como este, só tem um fim: mostrar o quão mediocre são as pessoas que o fazem.
    Levar a sério Datena, Tom Paixão, Ricardo Sápia e tropa, é se chamar de burro.
    Quer ler coisas sérias, desligue a televisão, pegue um jornal ou um livro.
    Gente burra fala para gente burra ...
    Até porque, como levar a sério um cara que chama Tom Paixão ?

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